quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

EUCARISTIA

Intensa luminosidade fluía do sacrário, envolvendo todo o material do culto, mas, surpreendido, reparei que o sacerdote, ao erguer a oferta sublime, apagou a luz que a revestia com os raios cinzento-escuros que ele próprio expedia em todas as direções. Logo após, quando se preparou a distribuir o alimento eucarístico entre os onze comungantes que se prosternavam, humildes, à mesa adornada de alvo linho, notei que as hóstias, no prateado recipiente que as custodiava, eram. autênticas flores de farinha, coroadas de doce esplendor. Irradiavam luz com tanta força que o magnetismo obscuro das mãos do ministro não conseguia inutilizá-las. Todavia, à frente da boca que se dispunha a receber o pão simbólico, enegreciam como por encanto. Somente uma senhora, ainda jovem, cuja contrição era irrepreensível, recolheu a flor divina com a pureza desejável. Vi a hóstia, qual foco de fluidos luminescentes, atravessar a faringe, alojando-se-lhe a claridade em pleno coração.
Intrigado, procurei ouvir o Instrutor. que, muito ponderado, elucidou sem delonga:
– Apreendeste a lição? O celebrante, apesar de consagrado para o culto, é ateu e gozador dos sentidos, sem esforço interior de sublimação própria. A mente dele paira longe do altar. Acha-se sumamente interessado em terminar a cerimônia com brevidade, de modo a não perder uma alegre excursão em perspectiva. Quanto aos que compareceram à mesa da eucaristia, cheios de sentimentos rasteiros e sombrios, eles mesmos se incumbem de anular as dádivas celestes, antes que lhes tragam benefícios imerecidos. Temos aqui grande quantidade de crentes titulares, mas muito poucos amigos do Cristo e servidores do bem.
O “ite, missa est” dispersou os fiéis que, ao fim da reunião, mais se assemelhavam a barulhento bando de passarinhos de bela plumagem.

Livro Libertação
Francisco Cândido Xavier/ André Luiz