quarta-feira, 27 de junho de 2012

VINGANÇA ALIENANTE

      Remanesce, como vestígio do primarismo, em a natureza humana, o mórbido costume da vingança.
        Presença do rancor nos sentimentos asselvajados, programa o desforço e aguarda o momento para desferir o golpe certeiro contra quem não espera o atentado vil.
        Cavilosamente, o vingador maquina a agressão, comprazendo-se, antecipadamente, com  a surpresa dorida de que será objeto aquele a quem detesta.
        Quando se sente superior em força e oportunidade, esmaga o adversário, cortando-lhe o passo de acesso a qualquer libertação.
        Se é fraco — e todo aquele que se vinga, é doente e frágil — urge com falsidade a trama que envolverá o desafeto, ferindo-lhe o mais profundo do ser.
        Às vezes fica, a distância, usufruindo o gozo, ante o sofrimento daquele a quem odeia.
        Em circunstâncias diferentes, desnuda o caráter e revela-se ao tombado, informando-lhe haver produzido o desastre, por tal ou qual motivo, que traz à tona, alegrando-se com a amargura que vê estampada na face do vencido.
        A vingança se manifesta, no entanto, de várias outras formas sutis, não, porém, menos danosas.
        Impossibilitada de eliminar o rival diretamente, apunhá-la-lhe a alma com a calúnia, que ao outro infelicita as horas, trazendo-lhe amargura e dor;
        abre-lhe abismos, mediante a cizânia que o arroja ao poço da vergonha e da aflição;
        prepara armadilhas morais que lhe arruínam a dignidade e lhe envilecem a conduta;
        inspira suspeitas que lhe corroem a estrutura do comportamento, deixando-o com insegurança e mal-estar;
        espreita-lhe o passo e não perde ocasião de o humilhar ou de levá-lo ao ridículo, sempre encontrando forma de malsinar-lhe as horas...
        A vingança é alta expressão de covardia moral, compreensível e desculpável por ser reflexo de morbidez e alienação mental, inspirando piedade em razão dos danos que sobre si mesmo acumula o seu agente.
        O vingador é um ser sempre infeliz e atormentado.
        Mesmo quando logra o seu intento não se satisfaz, porque se descobre vazio e sem objetivos.
        Envolve-te na luz da caridade e espraia-a até aqueles que se vingam, evitando também derrapares, quando ferido, na treva densa da vingança onde o ódio se homizia e aguarda.
 
(De “Luz da Esperança”, de Divaldo Pereira Franco, pelo Espírito Joanna de Ângelis)