Remanesce,
como vestígio do primarismo, em a natureza humana, o mórbido costume da
vingança.
Presença
do rancor nos sentimentos asselvajados, programa o desforço e aguarda o momento
para desferir o golpe certeiro contra quem não espera o atentado vil.
Cavilosamente,
o vingador maquina a agressão, comprazendo-se, antecipadamente, com a surpresa
dorida de que será objeto aquele a quem detesta.
Quando
se sente superior em força e oportunidade, esmaga o adversário, cortando-lhe o
passo de acesso a qualquer libertação.
Se é
fraco — e todo aquele que se vinga, é doente e frágil — urge com
falsidade a trama que envolverá o desafeto, ferindo-lhe o mais profundo do ser.
Às
vezes fica, a distância, usufruindo o gozo, ante o sofrimento daquele a quem
odeia.
Em
circunstâncias diferentes, desnuda o caráter e revela-se ao tombado,
informando-lhe haver produzido o desastre, por tal ou qual motivo, que traz à
tona, alegrando-se com a amargura que vê estampada na face do vencido.
A
vingança se manifesta, no entanto, de várias outras formas sutis, não, porém,
menos danosas.
Impossibilitada
de eliminar o rival diretamente, apunhá-la-lhe a alma com a calúnia, que ao outro
infelicita as horas, trazendo-lhe amargura e dor;
abre-lhe
abismos, mediante a cizânia que o arroja ao poço da vergonha e da aflição;
prepara
armadilhas morais que lhe arruínam a dignidade e lhe envilecem a conduta;
inspira
suspeitas que lhe corroem a estrutura do comportamento, deixando-o com
insegurança e mal-estar;
espreita-lhe
o passo e não perde ocasião de o humilhar ou de levá-lo ao ridículo, sempre
encontrando forma de malsinar-lhe as horas...
A
vingança é alta expressão de covardia moral, compreensível e desculpável por
ser reflexo de morbidez e alienação mental, inspirando piedade em razão dos
danos que sobre si mesmo acumula o seu agente.
O
vingador é um ser sempre infeliz e atormentado.
Mesmo
quando logra o seu intento não se satisfaz, porque se descobre vazio e sem
objetivos.
Envolve-te
na luz da caridade e espraia-a até aqueles que se vingam, evitando também
derrapares, quando ferido, na treva densa da vingança onde o ódio se homizia e
aguarda.
(De
“Luz da Esperança”, de Divaldo Pereira Franco, pelo Espírito Joanna
de Ângelis)