“Se perdoardes aos homens as faltas que eles fazem contra vós, vosso Pai
celestial vos perdoará também vossos pecados, mas se não perdoardes aos homens
quando eles vos ofendem, vosso Pai, também, não vos perdoará os pecados.”
(Capítulo
10, item 2.)
Nosso conceito de perdão tanto pode facilitar quanto limitar
nossa capacidade de perdoar.
Por possuirmos crenças negativas de que perdoar é “ser apático” com
os erros alheios, ou mesmo, é aceitar de forma passiva tudo o que os outros nos
fazem, é que supomos estar perdoando quando aceitamos agressões, abusos,
manipulações e desrespeito aos nossos direitos e limites pessoais, como se nada
tivesse acontecendo.
Perdoar não é apoiar comportamentos que nos tragam dores físicas ou morais, não
é fingir que tudo corre muito bem quando sabemos que tudo em nossa volta está
em ruínas. Perdoar não é“ser conivente” com as condutas inadequadas
de parentes e amigos, mas ter compaixão, ou seja, entendimento maior através
do amor incondicional. Portanto, é um “modo de viver
O ser humano, muitas vezes, confunde o “ato de perdoar” com a
negação dos próprios sentimentos, emoções e anseios, reprimindo mágoas e
usando supostamente o “perdão” como desculpa para fugir da
realidade que, se assumida, poderia como conseqüência alterar toda uma vida de
relacionamento.
Uma das ferramentas básicas para alcançarmos o perdão real é manter-nos a uma
certa “distância psíquica” da pessoa-problema, ou das discussões,
bem como dos diálogos mentais que giram de modo constante no nosso psiquismo,
porque estamos engajados emocionalmente nesses envolvimentos neuróticos.
Ao desprendermo-nos mentalmente, passamos a usar de modo
construtivo os poderes do nosso pensamento, evitando os “deveria ter
falado ou agido” e eliminando de nossa produção imaginativa os
acontecimentos infelizes e destrutivos que ocorreram conosco.
Em muitas ocasiões, elaboramos interpretações exageradas de
suscetibilidade e caímos em impulsos estranhos e desequilibrados, que causam
em nossa energia mental uma sobrecarga, fazendo com que o cansaço tome conta do
cérebro. A exaustão íntima é profunda.
A mente recheada de idéias desconexas dificulta o perdão, e
somente desligando-nos da agressão ou do desrespeito ocorrido é que o
pensamento sintoniza com as faixas da clareza e da nitidez, no processo
denominado “renovação da atmosfera mental”.
É fator imprescindível, ao “separar-nos”
emocionalmente de acontecimentos e de criaturas em desequilíbrio, a terapia da
prece, como forma de resgatar a harmonização de nosso “halo
mental”. Método sempre eficaz, restaura-nos os sentimentos de paz e
serenidade, propiciando-nos maior facilidade de harmonização interior.
A qualidade do pensamento determina a “ideação” construtiva
ou negativa, isto é, somos arquitetos de verdadeiros “quadros
mentais” que circulam sistematicamente em nossa própria órbita áurica.
Por nossa capacidade de “gerar imagens” ser fenomenal, é que essas
mesmas criações nos fazem ficar presos em “mono-idéias”.
Desejaríamos tanto esquecer, mas somos forçados a lembrar, repetidas vezes,
pelo fenômeno “produção-conseqüência”.
Desligar-se ou desconectar-se não é um processo que nos torna
insensíveis e frios, como criaturas totalmente impermeáveis às ofensas e
críticas e que vivem sempre numa atmosfera do tipo “ninguém mais vai me
atingir ou machucar”. Desligar-se quer dizer deixar de alimentar-se das
emoções alheias, desvinculando-se mentalmente dessas relações doentias de hipnoses
magnéticas, de alucinações íntimas, de represálias, de desforras de qualquer
matiz ou de problemas que não podemos solucionar no momento.
Ao soltar-nos vibracionalmente desses contextos complexos, ao
desatar-nos desses fluidos que nos amarram a essas crises e conflitos
existenciais, poderemos ter a grande chance de enxergar novas formas de
resolver dificuldades com uma visão mais generalizada das coisas e de
encontrar, cada vez mais, instrumentos adequados para desenvolvermos a nobre
tarefa de nos compreender e de compreender os outros.
Quando acreditamos que cada ser humano é capaz de resolver seus
dramas e é responsável pelos seus feitos na vida, aceitamos fazer esse
“distanciamento” mais facilmente, permitindo que ele seja e se
comporte como queira, dando-nos também essa mesma liberdade.
Viver impondo certa “distância psicológica” às
pessoas e às coisas problemáticas, seja entes queridos difíceis, seja companheiros
complicados, não significa que deixaremos de nos importar com eles, ou de
amá-los ou de perdoar-lhes, mas sim que viveremos sem enlouquecer pela ânsia de
tudo compreender, padecer, suportar e admitir.
Além do que, desligamento nos motiva ao perdão com maior
facilidade, pelo grau de libertação mental, que nos induz a viver sintonizados
em nossa própria vida e na plena afirmação positiva de que “tudo deverá
tomar o curso certo, se minha mente estiver em serenidade”.
Compreendendo por fim que, ao promovermos “desconexão
psicológica”, teremos sempre mais habilidade e disponibilidade para
perceber o processo que há por trás dos comportamentos agressivos, o que nos
permitirá não reagir da maneira como o fazíamos, mas olhar “como é e como
está sendo feito” nosso modo de nos relacionar com os outros. Isso nos
leva, conseqüentemente, a começar a entender a “dinâmica do
perdão”.
Uma das mais eficientes técnicas de perdoar é retomar o vital
contato com nós mesmos, desligando-nos de toda e qualquer “intrusão
mental”, para logo em seguida buscar uma real empatia com as pessoas.
Deixamos de ser vítimas de forças fora de nosso controle para transformar-nos
em pessoas que criam sua própria realidade de vida, baseadas não nas críticas e
ofensas do mundo, mas na sua percepção da verdade e na vontade própria.
Renovando Atitudes
Hammed / Francisco do Espirito Santo