sexta-feira, 10 de agosto de 2012

ORAÇÃO PELO PEQUENINO

        Jesus!
        Abra-me os braços para que meu coração afague todas as avezinhas da infância, espalhadas no caminho da minha vida. Ainda implumes e tombadas do ninho a rés-do-chão, aguardam ternura e socorro imediato.
        Deixe que em meu seio o amor construa um teto para albergar todos esses pequeninos sem nome, cujo grande lar é o infortúnio nos caminhos desertos e cujo leito é a estrada malsinada por onde trafegam os incautos.
        Tome das minhas mãos e ajude-me a fixar caracteres na argila frágil das suas mentes, modelando com os instrumentos do meu sacrifício a forma delicada do dever, traçando linhas de conduta cristã que lhes exorne o espírito nos dias do amanhã. Bem sei que os homens do futuro são as criancinhas de agora e cuidar delas é construir o mundo novo.
        Imponha à minha alma, agora, o respeito por esses cidadãos do porvir.
        Ajude-me a dilatar a débil capacidade do meu querer, fazendo-o rescender como um perfume de jasmim, a fim de que sendo:
        — Mãe, eu lhe ofereça o bisturi para que o meu peito seja rasgado, se necessário, e dele jorre a seiva do encantamento maternal que os fortifique e  engrandeça na via do crescimento.
        — Mestra, eu tenha a voz mansa, os olhos serenos e a mão cariciosa, no instante do afago ou da reprimenda, à hora da alfabetização ou no momento punitivo.
        —  Esposa, eu O conduza comigo, para que, se meu ventre negar-se ao ministério sagrado da procriação, eu possa encontrar, nos filhos de outras mães, a continuação da vida que a carne não me pode propiciar.
        — Irmã, eu seja possuidora da boa palavra na hora oportuna e do silêncio compreensivo no instante  azado.
        — Amiga, eu me conduza de tal forma que na amizade sintetize toda a pureza de mãe, a sabedoria de mestra, a nobreza de esposa, a bondade de irmã e a obrigação de amiga fiel, porque a infância, Jesus, é o grande solo donde será arrancada a Humanidade nova para a exaltação gloriosa do Evangelho.
 
Amélia Rodrigues
(De “Crestomatia da Imortalidade”, de Divaldo Pereira Franco – Diversos Espíritos)