Jesus!
Abra-me
os braços para que meu coração afague todas as avezinhas da infância,
espalhadas no caminho da minha vida. Ainda implumes e tombadas do ninho a
rés-do-chão, aguardam ternura e socorro imediato.
Deixe
que em meu seio o amor construa um teto para albergar todos esses pequeninos
sem nome, cujo grande lar é o infortúnio nos caminhos desertos e cujo leito é a
estrada malsinada por onde trafegam os incautos.
Tome
das minhas mãos e ajude-me a fixar caracteres na argila frágil das suas mentes,
modelando com os instrumentos do meu sacrifício a forma delicada do dever,
traçando linhas de conduta cristã que lhes exorne o espírito nos dias do
amanhã. Bem sei que os homens do futuro são as criancinhas de agora e cuidar
delas é construir o mundo novo.
Imponha
à minha alma, agora, o respeito por esses cidadãos do porvir.
Ajude-me
a dilatar a débil capacidade do meu querer, fazendo-o rescender como um perfume
de jasmim, a fim de que sendo:
—
Mãe, eu lhe ofereça o bisturi para que o meu peito seja rasgado, se necessário,
e dele jorre a seiva do encantamento maternal que os fortifique e engrandeça
na via do crescimento.
—
Mestra, eu tenha a voz mansa, os olhos serenos e a mão cariciosa, no instante
do afago ou da reprimenda, à hora da alfabetização ou no momento punitivo.
—
Esposa, eu O conduza comigo, para que, se meu ventre negar-se ao ministério
sagrado da procriação, eu possa encontrar, nos filhos de outras mães, a
continuação da vida que a carne não me pode propiciar.
—
Irmã, eu seja possuidora da boa palavra na hora oportuna e do silêncio
compreensivo no instante azado.
—
Amiga, eu me conduza de tal forma que na amizade sintetize toda a pureza de
mãe, a sabedoria de mestra, a nobreza de esposa, a bondade de irmã e a
obrigação de amiga fiel, porque a infância, Jesus, é o grande solo donde será
arrancada a Humanidade nova para a exaltação gloriosa do Evangelho.
Amélia Rodrigues
(De
“Crestomatia da Imortalidade”, de Divaldo Pereira Franco –
Diversos Espíritos)